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21.6.17

CAMPOS, Leonildo Silveira. Os Mapas, Atores e Números da Diversidade Religiosa Cristã Brasileira: Católicos e Evangélicos entre 1940 e. revista de estudos da religião, p. 9-47, 2008.

Introdução 

Relacionar o estado, o processo e o grau de desenvolvimento de nossa diversidade religiosa implica na percepção de que a realidade está ligada não somente à urbano-industrialização, mas também ao êxodo rural, à explosão de megalópoles e de metrópoles regionais, ao aumento da desigualdade social e ao surgimento de uma cultura mundializada. 

Para contrastar os números de evangélicos levantados em diversos momentos e metodologias com os números do Catolicismo usamos estimativas de missionários protestantes, embora tenham sido geradas quase sempre com objetivos missiológicos ou apologéticos. 

1 – A diversidade religiosa brasileira à luz dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 

Um dos motivos da popularidade dos dados de 2000 talvez se deva a confirmação que ele fez da velocidade da queda do Catolicismo e do rápido crescimento dos evangélicos pentecostais nos nove anos anteriores e num período mais longo de seis décadas.

O texto de Jacob aponta para duas regiões da periferia de São Paulo onde tais índices foram de 18% e 30% da população. Os autores assim registram: “... em torno dos bairros com melhores condições de vida da cidade, tem-se um verdadeiro anel pentecostal” (2006: 161). 

A fertilidade da metodologia de Jacob et. alii. (2006) favorece a percepção das relações entre os indicadores demográficos, sociais e econômicos, em especial no Sudeste, mas também nas regiões metropolitanas das capitais brasileiras, onde o crescimento pentecostal apresenta fortes vínculos com a demografia e problemas decorrentes das taxas de urbanização. Fizemos (CAMPOS, 2006) investigações em um contexto de cidade-região (Grande ABC paulista) sobre as relações entre crescimento pentecostal e os índices sociais de pobreza, analfabetismo, violência, desemprego, desigualdade e exclusão social de um lado, e o crescimento do Pentecostalismo de outro. Os números apresentados no final da investigação se mostraram coerentes dentro da equação exploração desde a influência da sociologia marxista, isto é, onde há mais problemas sociais e econômicos, há maior presença de templos e de redes de templos pentecostais e neopentecostais. 

De qualquer maneira, o crescimento das igrejas pentecostais colocou no ranking, em primeiro lugar, a Assembleia de Deus, depois, a Congregação Cristã no Brasil, seguidas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) e Igreja Pentecostal Deus é Amor. Além dessas há, também, um grupo de igrejas que formaram um Pentecostalismo pulverizado em centenas de igrejas e templos locais, que não formam grandes redes de templos, mas que têm uma participação de 15,85% no total de pentecostais recenseados em 2000. 

2 - A mensuração da diversidade religiosa além dos dados do IBGE: FGV, DataFolha e Pew Forum 

2.1 – Os dados da pesquisa Economia das religiões (FGV-Rio de Janeiro) 

A abordagem dos pesquisadores da FGV consistiu em: “... relacionar a demanda por novas opções religiosas, leia-se aumento dos pentecostais e dos sem religião nos grupos mais afetados por choques econômicos e sociais adversos como as chamadas crises metropolitana e de desemprego, a onda de violência, favelização, informatização entre outras” (2007:7). O nicho onde o Pentecostalismo viceja, cresce e floresce, segundo Néri (FGV, 2007:7), se localiza entre os “grupos perdedores da crise econômica”, pois, “... os dados demonstram com clareza que a velha pobreza brasileira (...) continua católica, enquanto a nova pobreza (...) estaria migrando para as novas igrejas pentecostais e para os chamados segmentos sem religião” (os grifos são nossos). 

Na pesquisa da FGV aparecem também, com destaque, as dificuldades materiais que agem como forças propulsoras do crescimento pentecostal tais como desemprego, precarização das relações de trabalho, violência, favelização, informalização da economia e outros elementos considerados pelos pesquisadores como impacto da miséria. O resultado teria sido o surgimento de uma nova pobreza que migra para os pentecostais e sem religião, enquanto a velha pobreza era mais rural e católica. 

As igrejas estariam também substituindo o Estado no atendimento, ainda que simbólico de necessidades básicas, enquanto, ainda segundo Néri (2007: 11) o “número de pessoas exercendo ofícios de natureza religiosa” demonstra que a religião está oferecendo ocupação para milhares de pessoas sem outras perspectivas de emprego. 

É inegável que se há um ressurgimento do religioso, embora dentro de novos moldes, há um crescente processo de secularização ou de desencantamento do mundo. 

Seria, portanto, a explosão pentecostal em novas formatações, mais um sinal de que assistimos à inserção do cálculo racional, da lógica do mercado, da busca de resultados práticos e individuais quase sempre mágicos, no coração do próprio Cristianismo? 

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