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20.6.17

MARIZ, Cecília L.; GRACINO JR. Paulo. As igrejas pentecostais no Censo de 2010. In: TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (orgs.). Religiões em movimento: o Censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2013, p.161-174.

Os evangélicos saltaram de 6,6% em 1980 para 22,2% da população em 2010. Em termos absolutos, o crescimento parece mais pujante: de 7.886 milhões em 1980, os evangélicos atingem a marca de 42.275 milhões, ou seja, um crescimento perto de 540% nas últimas três décadas.

A metodologia do Censo para identificar a diversidade evangélica

Em 2010 os pentecostais representam, portanto, respectivamente, 13,30% da população brasileira e 60% de todo o campo evangélico. Ainda que tenha mantido a curva ascendente, o ritmo de crescimento pentecostal parece ter diminuído na última década, ficando na casa dos 140%, contra algo próximo a 220% registrados entre as décadas de 1990 e 2000.

Queda percentual tanto de evangélicos pentecostais como de evangélicos históricos perde significado analítico quando observamos que se explicam pelo crescimento de uma categoria que obscurece a análise e a comparação a ser feita entre evangélicos de missão e pentecostais e também interfere na comparação com o Censo anterior. A categoria dos que se identificaram genericamente apenas como “evangélicos” e omitiram sua denominação.

Em 2010, portanto, uma parte significativa dos que se declaram evangélicos foi classificada na categoria “religião evangélica não determinada”. São 9,2 milhões de pessoas classificadas nessa categoria, que perfazem 21,80% de todo o contingente evangélico, superando o percentual de evangélicos de missão (18,2%) e alcançam quase 5% da população mais ampla.

Os recenseadores foram instruídos para não reformularem a pergunta, ou seja, embora pudessem repetir a pergunta, não poderiam acrescentar nenhuma questão complementar do tipo: “qual a igreja?” ou “qual denominação?”, “é praticante?”, “acredita em Deus?” O recenseador deveria acolher literalmente a resposta dada pelos recenseados. Portanto, se esses dissessem: “sou evangélico(a), mas não tenho denominação alguma”, deveria registrar essa resposta. Da mesma forma que registraria “sou evangélico(a) da Assembleia de Deus”, ou simplesmente “sou evangélico(a)”.

Não havia pergunta por parte do recenseador que estimulasse a identificação da denominação. Como se perguntava genericamente qual a religião ou culto, o respondente poderia não achar necessário identificar a sua igreja.

De acordo com as explicações metodológicas do IBGE, não se pode, com esses dados concluir que o “evangélico” não tenha nenhuma denominação.

O crescimento desigual do pentecostalismo

Focando nossa análise nas denominações, observamos que todas as denominações declinam do ponto de vista percentual em relação ao seu peso dentro do grande grupo evangélico e quase todas declinam também em relação à população total e algumas em termos absolutos. Para termos uma ideia, a Congregação Cristã do Brasil, segunda maior denominação pentecostal do país, perdeu fiéis em números absolutos (são quase 2,3 milhões contra quase 2,5 milhões em 2000, portanto, em torno de 200 mil fiéis a menos), vendo sua representatividade no campo evangélico cair de 9,51% para 5,42%.

Os dados sobre igrejas pentecostais analisados acima, que como já dissemos podem estar subestimados, sugerem que, apesar da maioria dessas denominações terem crescido numericamente e em termos percentuais em relação à população brasileira, o ritmo desse crescimento tem se arrefecido na última década.

O pentecostalismo tem avançado de forma mais contundente em regiões receptoras de população migrante, enquanto nas regiões doadoras desse contingente populacional o catolicismo ainda se faz forte.

Neste mesmo sentido, notamos que, enquanto a Igreja Católica mantém sua hegemonia nas áreas menos dinâmicas – do ponto de vista das transformações culturais, industriais e deslocamento populacional –, os pentecostais têm seu maior crescimento nas grandes regiões metropolitanas, principalmente em sua periferia. Esse panorama sugere que as denominações religiosas conseguem maior êxito quando dispõem de um aparato institucional-litúrgico mais próximo às demandas – religiosas ou não – das populações às quais se dirigem, conseguindo operar a tradução desses anseios para o seu discurso religioso (cf. BURDICK, 1998 [1993]; MARIZ, 1994). Seguindo esse raciocínio, podemos compreender por que a “Teologia da Prosperidade” da Iurd faz relativamente pouco eco aos ouvidos da população que vive em condições de grande pobreza na Baixada Fluminense, ao passo que a “classe média” raramente é atraída pela Assembleia de Deus[5], cuja doutrina ainda possui conotação fortemente moral e avessa ao consumo (cf. tb. JACOB, 2006).

Em estados em que o catolicismo se tornou um patrimônio cultural, através da patrimonialização tanto da cultura material quanto das festas religiosas (cf. ABUMANSSUR, 2003; CAMURÇA & GIOVANNI, 2003), os pentecostais parecem encontrar extrema dificuldade de penetração.

O perfil social dos pentecostais no Censo de 2010

Os dados de 2010 mostram que o pentecostalismo continua atraindo mais as mulheres (55,6%) e possui a idade mediana menor comparando os demais grupos religiosos (27 anos). Especialmente ainda continua também sendo a opção religiosa dos pobres.

Se focarmos nas rendas mais altas, na categoria mais de 10 salários mínimos per capita, os sem-religião (2,1%) superam os católicos (1,7%) e os evangélicos de missão (1,6%). Nessa categoria se distinguem bastante dos pentecostais.

A análise do nível de instrução dos pentecostais indica que esse grupo religioso é o que reuniria a população de menor status social.

Considerações finais

Comparando os indicadores socioeconômicos dos grupos evangélicos, observamos que os pentecostais estão nos extratos mais baixos, são os mais pobres. Os dados disponíveis sugerem que os perfis sociais dos membros das igrejas pentecostais e de missão continuam bastante distintos como o eram nos censos anteriores. Essa diferença é importante para ajudar a levantar hipóteses que expliquem por que o pentecostalismo cresce mais, em que regiões geográficas e em que meio social.

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