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15.1.18

CUNHA, Marcelo. Investindo sem Mistério: como proteger seu dinheiro e multiplicar seu patrimônio.

Capítulo 1: Investir ou não investir, eis a questão

 

Quando perceber que, em determinado momento, você está ganhando mais com seus investimentos do que com o seu trabalho, você já pode se considerar, de certa forma, uma pessoa livre – já que poderia, na teoria, deixar seu trabalho e continuar a receber o suficiente para se manter.

A aposentadoria seria, independentemente da idade, o momento em que você conseguisse o dobro de suas despesas mensais como rendimento de seus investimentos.

Ativos e passivos em finanças pessoais: uma noção imprescindível para você fazer escolhas conscientes.

Segundo a contabilidade, ativo é todo bem ou direito de alguém, enquanto as obrigações compõem o passivo dessa pessoa.   Para as finanças pessoais, entretanto, ativo é tudo aquilo que coloca dinheiro no seu bolso, ou seja, gera um fluxo de caixa positivo para você (dinheiro entrando na sua conta – como os investimentos, um negócio, seu trabalho, etc.). Passivo, por sua vez, é tudo aquilo que tira dinheiro de seu bolso (como uma conta ou uma dívida). Logo, vemos que vários bens que a contabilidade encara como ativos são, na verdade, passivos para as finanças pessoais.

Se uma pessoa consegue entender muito bem essa diferença terá todas as condições de não se envolver em uma das maiores armadilhas da vida: a ascensão social e a explosão do endividamento.

Os luxos que geram despesas periódicas (como quotas de clubes, sítios, casas de campo ou de praia, celulares, contratação de funcionários domésticos, etc.) são verdadeiros passivos consumidores de sua renda

Você já parou para pensar no custo anual de um carro de preço aproximado R$50.000,00? Verifique na tabela abaixo que é bem razoável supor gastos da ordem de 40% do valor do automóvel, por ano – sendo que esse percentual não varia muito em comparação com veículos de outros valores.   Despesa por ano: valores estimados: IPVA, Seguro Obrigatório e outras taxas: R$ 2.000,00 Seguro automotivo: R$ 1.500,00 Manutenção (troca de óleo, pneus, pastilhas de freio, revisões, etc.) R$ 2.000,00 Depreciação (perda de valor de mercado anual) R$ 5.000,00 Custo de oportunidade (quanto você poderia ganhar se investisse o valor do carro em um investimento conservador) R$ 6.500,00 Gasolina e conservação (lavar o carro, pequenos arranhões, multas, etc.) R$ 3.000,00 Total: R$ 20.000,00

Não há como investir e formar patrimônio se você tem dívidas.   A primeira coisa que precisa ser dita clara e diretamente é que você não pode investir se tiver qualquer dívida. O primeiro passo para investir é estabilizar sua vida financeira e fazer sobrar o dinheiro dos investimentos todos os meses.

Em primeiro lugar, você deve considerar o dinheiro para seus investimentos como uma conta como outra qualquer que você teria que pagar.

Caso você perceba que está “sobrando” aproximadamente R$500,00 por mês para investir, no início do próximo mês realize um investimento de R$600,00 com uma segunda meta de ainda sobrar algum dinheiro ao fim do mês e incrementar esse valor inicial.

Vá aumentando o valor mensal de investimentos até chegar a um valor razoável (no mínimo 30% dos seu salário). Você verá que, em muito pouco tempo, você estará ganhando mais dinheiro sem fazer nada (a partir dos rendimentos dos seus investimentos) do que trabalhando.

Um justo meio entre poupar e viver a vida – a questão do consumismo:

·         apenas aproveita a vida – e toda ela – quem possui independência financeira.
·         investir não significa deixar de aproveitar a vida, mas eleger prioridades.
·         Não existe pequeno investimento:
·         JAMAIS deixe de poupar por achar que é muito pouco.

Capítulo 2: Primeiros passos para se tornar um investidor

 

Abrindo sua conta em uma corretora de valores:

Na maioria das vezes, os investimentos feitos nos Bancos servem exclusivamente para gerar lucros exorbitantes ao banco – e não a você.

Você não pode jogar fora as rentabilidades do seu suado dinheiro em benefício do banco.

Assim, abrir uma conta em corretora de valores é fundamental – ainda que você não queira operar com ações ou outros produtos mais sofisticados. Mesmo com produtos bancários simples (como os CDBs – Certificados de Depósitos Bancários – que veremos posteriormente no livro – ou outros), as pessoas que possuem conta em corretoras podem escolher, com o mesmo risco, com taxas e custos muito melhores.

Uma boa forma de você começar a selecionar sua corretora é ir ao link público do tesouro que indica as corretoras habilitadas a negociar os títulos federais e conferir as taxas cobradas. Além disso, no referido site há o contato das instituições e seu ranking.

Selo CETIP certifica: um diferencial que pode ser levado em conta no momento da escolha da corretora de valores é o fato dela ser certificada pela CETIP (selo “CETIP certifica”). Trata-se de um selo de qualidade fornecido pela Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos – CETIP – que, atualmente, em conglomerado com a BM&FBovespa – é o principal entidade de registro de títulos privados do Brasil.

Como investidor amador, você deve estudar apenas o suficiente para saber as características essenciais para uma tomada de decisão consciente e revisar suas convicções esporadicamente.

Seu maior objetivo será seguir os princípios expostos a seguir como forma de, no longo prazo, evitar perdas em seu patrimônio com uma rentabilidade razoável (e não impressionante) ao longo do tempo.

Controle de risco:

Você deve colocar, no máximo, quantias equivalentes a menos de 5% de seu patrimônio total em investimentos de risco especulativo.

Diversificação: o investidor amador tem como principal remédio contra o risco de perder quantia relevante de seu patrimônio a diversificação.

Invista o dinheiro novo e não desinvista seu dinheiro: sempre que você tira seu dinheiro de alguma aplicação antes do vencimento você perde dinheiro.

Só desinvista seu dinheiro antes do fim do prazo em último caso (emergências) ou nas hipóteses que você perceba que o investimento perdeu o valor como parte de seu patrimônio.

Você nunca deve vender um imóvel por que seu valor subiu e você quer reinvestir o dinheiro (ou simplesmente porque há outros produtos que estão valorizando mais do que os imóveis). Você só deve vender seu imóvel se ele deixou de ser um “valor” em seu patrimônio, como no caso do levantamento de uma favela vizinha. Nessa hipótese, seu investimento perdeu o valor pois a tendência é do preço do imóvel cair cada vez mais e os aluguéis ficarem cada vez mais reduzidos – não havendo perspectivas claras de melhora da situação.

Sempre haverá alguns de seus investimentos rendendo bem e outros nem tanto. Todos, entretanto, devem ter um valor intrínseco preservado

Noções mínimas de macroeconomia:

O primeiro ponto que o investidor deve tomar conhecimento, refere-se à taxa SELIC.

A taxa Selic é definida através de uma decisão do COPOM (comitê  de política monetária do Banco Central do Brasil) em uma reunião realizada a cada 45 dias aproximadamente.

Essa taxa é chamada de taxa básica de juros da economia por se tratar, em teoria, dos juros com o menor risco atrelado – já que são relativos aos empréstimos realizados com o tesouro nacional.

Explicando melhor. Suponha que houve uma reunião do COPOM em que o comitê do BACEN decidiu por estipular a SELIC em 14% ao ano. Isso significa que os empréstimos que o tesouro nacional faz com o mercado vão pagar, no mínimo, a taxa de 14% ao ano a partir daí. Assim, caso alguma instituição queira pegar dinheiro com o tesouro, pagará a taxa de 14% ao ano.

Caso algum banco queira emprestar dinheiro a seus clientes, sabendo que o dinheiro poderá ser financiado com o tesouro à taxa SELIC, deverá, como regra, cobrar juros superiores à SELIC para obter lucro.

O mercado (eu, você, outras empresas, outros bancos, etc.), sabendo que podem pegar o dinheiro emprestado com o tesouro nacional à taxa SELIC, exigirão da empresa ou da instituição financeira uma taxa superior para o empréstimo mais arriscado.

Continuando essa digressão sobre a macroeconomia, existe uma ligação teórica entre a taxa SELIC e a inflação (e o crescimento) de um país.

Altas taxas SELIC acabarão por desaquecer a economia e frear a inflação.

Nas Taxas SELIC baixas, por sua vez, o cidadão  deixa de investir (pois os investimentos já não rendem tanto) e passa a consumir (à vista ou financiado) – movimentando a economia e gerando a inflação.

Critérios de análise dos investimentos:

3 parâmetros básicos: 1) Risco; 2) Prazo e liquidez; 3) Rentabilidade.

Capítulo 3: Conhecendo os produtos financeiros

 

Capítulo 3.1. Investimentos em renda fixa:

 

Os investimentos em renda fixa são aqueles em que, desde o momento da contratação, o investidor sabe qual será a remuneração de seu investimento.

Os investimentos de renda fixa pré-fixados são aqueles que, no momento da aquisição do produto o investidor saberá qual a taxa de juros aplicável ao empréstimo até seu vencimento. Portanto, um CDB que paga uma taxa de 10% ao ano e tem prazo de 3 anos é pré-fixado.

Os investimentos de renda fixa pós-fixados são aqueles que têm sua remuneração atrelada a determinado índice que irá variar no decorrer do empréstimo.

Os dois principais índices utilizados nos investimentos pós-fixados são a taxa SELIC (e a taxa CDI – que são muito próximas) e índices que medem a inflação (ex. IPCA, IGPM, etc.).

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC):

O FGC é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que visa a garantir créditos (investimentos) de instituições a ele associadas quando há intervenção, liquidação extrajudicial ou insolvência.

O fundo irá garantir, por instituição financeira (ou conglomerado) e por CPF (ou CNPJ), a quantia máxima de R$250.000,00 (aí incluídos todos os juros e ganhos do investimento) com uma contribuição fixa de 0,0125% ao mês (retirada da rentabilidade do investimento).   O que é garantido pelo FGC (dentro do limite de R$250.000,00 por instituição e por CPF)? - Valores em conta corrente e poupança; - Depósitos a prazo (CDBs); - Letras de Câmbio (LCs); - Letras Imobiliárias (LIs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs); - Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs); - Letras Hipotecárias (LHs);   O que não é garantido pelo FGC? - Valores superiores a R$250.000,00 por instituição financeira e por CPF (ainda que em produtos diferentes); - Correção de valores desde a intervenção do Banco Central ao efetivo pagamento do FGC; - Fundos de Investimentos; - Debêntures; - Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs); - Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs); - Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs); - Letras Financeiras (LFs); - Tesouro Direto.

Produtos Financeiros De Renda Fixa:   Produtos em que você empresta dinheiro ao Tesouro Nacional:     Tesouro Direto:

O investimento em tesouro direto significa a compra de títulos públicos do governo federal diretamente pelo cidadão. Em bom português, significa que você empresta seu dinheiro ao tesouro nacional por um determinado prazo fixo e por uma taxa de juros já combinada que poderá ser prefixada (tesouro prefixado), atrelada à inflação (tesouro IPCA), ou atrelada à taxa selic (tesouro selic).

Outra característica muito interessante dos títulos do tesouro direto é a sua liquidez diária. Você pode vender seus títulos todos os dias e o dinheiro já estará na sua conta no dia seguinte – perfazendo-se uma excelente opção para alocação das reservas de emergência – notadamente os títulos atrelados à selic (Tesouro Selic – mais abaixo falaremos especificamente sobre cada papel).

Cabe assinalar, porém, que a alta rentabilidade pode ser prejudicada pelas altas taxas que o agente de custódia pode cobrar. Assim, torna-se necessário que o investidor pesquise, entre os agentes de custódia (http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas), qual deles é o mais interessante para seu perfil.

São, basicamente, 3 tipos de títulos oferecidos pelo tesouro nacional:  

·         Títulos prefixados: são aqueles que já oferecem, no momento da compra, a taxa fixa que será paga até o vencimento. Por exemplo, caso você adquira o título “tesouro prefixado 2023”
·         Títulos pós-fixados atrelados ao IPCA: esses títulos, chamados “Tesouro IPCA+”, pagam uma taxa fixa (como se fossem os prefixados), mais a variação do IPCA do período. Se você, por exemplo, adquirir o papel “Tesouro IPCA+2024”, está contratando, com o tesouro nacional, um empréstimo de seu dinheiro que renderá, no momento em que escrevo esse trecho, a variação do IPCA (índice de inflação oficial brasileiro), mais 6,21%a.a até a data do vencimento (nesse caso, 15/08/2024).
·         Títulos pós-fixados atrelados à taxa SELIC: os títulos “Tesouro Selic” rendem exatamente a variação da taxa selic do período que você contratou.

Os títulos “prefixados” e “IPCA+” podem vir ou não com juros semestrais (você escolherá se deseja ou não que, a todo semestre, o tesouro te pague os rendimentos do período).

Sugiro sempre que você não deixe de reinvestir qualquer fruto de suas aplicações (juros, dividendos, juros sobre capital próprio, aluguéis, etc.) – e, no caso do tesouro direto, dê sempre preferência aos títulos sem os juros semestrais.

Algumas regrinhas de ouro:

1.       Prefira os títulos vinculados à inflação (IPCA+) pois somente eles garantem um rendimento real (além da inflação);
2.       Somente compre os títulos prefixados ou vinculados à inflação se você tiver a convicção de que poderá levá-los até o vencimento sem sua venda antecipada (que pode gerar prejuízos).
3.       Faça uma reserva de emergência  robusta com títulos do tesouro selic (e não com produtos bancários comerciais ou com a poupança).

Sou um fã do tesouro direto pela conjunção dos três fatores de análise dos investimentos: baixo risco, alta liquidez e alta rentabilidade.

A tributação dos títulos do tesouro direto segue a regra padrão dos produtos de renda fixa: De 0 a 180 dias de aplicação – imposto de renda de 22,5% sobre o lucro; De 181 a 360 dias de aplicação – imposto de renda de 20% sobre o lucro; De 361 a 720 dias de aplicação – imposto de renda de 17,5% sobre o lucro e Acima de 720 dias de aplicação – imposto de renda de 15% sobre o lucro.

Uma dica importante para o investidor inteligente é que sempre procure fazer suas aplicações por um prazo de, no mínimo, dois anos.

Produtos em que você empresta dinheiro a bancos:

2. CDBs: Saia do lugar comum: CDB não é só o do seu banco comercial!   CDBs são os certificados de depósitos bancários. Os bancos emitem esse certificados ao pegar o seu dinheiro emprestado para utilizar em seu negócio (emprestar o dinheiro para outros por juros maiores).

Os grandes bancos comerciais, mesmo sem uma vantagem de risco (já que todos CDBs são protegidos pelo FGC), pagam taxas muito baixas confiando que seu cliente terá preguiça de pesquisar outros CDBs do mercado.

Assim, antes de fechar seu CDB com seu banco de relacionamento, confira outras opções.

Outro fator que afeta diretamente a rentabilidade paga é a liquidez. Produtos de liquidez mais baixa (por exemplo, que não podem ser retirados até seu vencimento em 2 anos ou mais) tendem a oferecer uma rentabilidade muito maior do que aqueles de liquidez diária.

3. LCIs e LCAs   LCIs são as letras de crédito imobiliário e LCAs as letras de crédito agrícola. Nesses instrumentos, você empresta seu dinheiro ao banco que irá emprestá-lo, a taxas maiores, para o mercado imobiliário (com garantias de bens imóveis dos tomadores dos empréstimos) ou do agronegócio.

Não há pagamento de imposto de renda para investimentos de pessoas físicas.

Produtos em que você empresta dinheiro a empresas:

Esses produtos NÃO têm a proteção do FGC.

1. Debêntures:

Debênture é um título emitido por uma empresa à qual você empresta seu dinheiro mediante o pagamento de juros prefixados ou pós-fixados (aí podem ser atrelados ao CDI ou à inflação – normalmente ao IPCA).   A garantia do pagamento do empréstimo normalmente é “apenas” a boa saúde financeira e operacional da empresa, não havendo a garantia do FGC, motivo pelo qual vale a pena conferir os balanços dos últimos 10 anos da companhia.

Normalmente as debêntures pagam taxas superiores ao tesouro direto, CDB e às LCIs e LCAs justamente por este risco maior. Caso a empresa peça recuperação judicial ou falência, você poderá ficar a ver navios e perder todo o valor aplicado (atenção! Isso é mais comum do que parece!).

2. CRIs e CRAs:   Os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) são dívidas das empresas (e não dos bancos) com garantia (imobiliária ou de recebíveis do agronegócio) especial.

Os pontos positivos interessantes dos produtos são a isenção de imposto de renda no investimento da pessoa física e as altas rentabilidades que estão associadas a esse risco maior.

O lado negativo dos produtos, além da falta de garantia do FGC, é que a liquidez mostra-se normalmente restrita (dependendo do mercado secundário para a venda do título antes do vencimento). Além disso, o valor inicial de aplicação é geralmente alto – o que impede o acesso do pequeno investidor (usualmente acima de R$300.000,00).

Capítulo 3.2. Produtos financeiros de renda variável:

 

Nossa abordagem não é especulativa, mas embasada no valor do ativo que se compra em renda variável (e mesmo na renda fixa). Assim, tudo o que falaremos aqui visará não ao enriquecimento fácil e imediato do investidor amador, mas à lenta, gradual e segura acumulação de patrimônio ao longo de décadas.

1. Ações:

As ações são literalmente “partes” das companhias negociadas em bolsa. Assim, ao adquirir uma ação de uma empresa, você está comprando parte do negócio.

Para se comprar ações, existem certos parâmetros de análise que devem ser verificados. Seriam eles:

- O setor e ramo do negócio (o setor é interessante? A concorrência é predatória?);

- A história da empresa (trata-se de uma empresa sólida? É líder do setor? Está bem colocada no setor? Tem algum diferencial?);

- A saúde financeira e operacional da empresa (a empresa dá lucros sistematicamente? A receita vem aumentando? As margens entre a receita e o lucro são boas e crescentes? A empresa tem muitas dívidas?);

- Quais são as perspectivas futuras da empresa?

Essa análise deve ser feita necessariamente no mínimo uma vez por ano (se possível a cada trimestre) com base, primordialmente, nos balanços trimestrais (ou no balanço anual) da empresa.

A estratégia de comprar empresas com base em seus fundamentos de balaço contábil é chamada de análise fundamentalista.

Os indicadores mais comuns na análise dos balanços das companhias são:

·         ROE: (Return on equity ou retorno sobre o patrimônio) = Lucro Líquido/ (dividido pelo) Patrimônio Líquido. Também conhecido como rentabilidade do capital próprio ou lucratividade, mede o retorno que o capital dos acionistas está dando em termos percentuais. Assim, pode-se comparar com os demais investimentos disponíveis no mercado.
·         LPA (Lucro por ação) = Lucro liquido/ número de ações.  
·         P/L (ou payback) = Preço da ação/ Lucro líquido por ação. Este indicador é dado em anos e mostra em quanto tempo o preço que se pagou pela ação será revertido ao investidor sob a forma de lucros. Se o PL é de 8, significa que, pelos resultados atuais, em 8 anos, a empresa gerará lucros suficientes para cobrir o valor pago hoje pela ação.
·         VPA (Valor patrimonial por ação) = Patrimônio da empresa (ou valor contábil da empresa)/ número de ações. Quanto a ação deveria custar se só levássemos em conta os ativos e passivos e o número de ações.
·         P/VPA: relação entre o preço de mercado da ação e o valor patrimonial da ação. Indica a relação entre o valor de mercado da ação e o patrimônio real da empresa.
·          
·         Market Cap = P x número de ações. É o valor de mercado da empresa considerado o preço atual de suas ações.
·         DPA = dividendos distribuídos/ número de ações. É o valor em reais que cada ação pagou nos últimos 12 meses aos donos das respectivas ações.

Esses pagamentos são chamados de dividendos e caem diretamente na conta da corretora de valores do investidor. São isentos de imposto de renda. Outro pagamento feito pelas ações diretamente na conta da corretora do investidor são os chamados Juros sobre capital próprio (JCP). Os JCP são exatamente como os dividendos: uma forma de distribuição dos lucros aos acionistas. Entretanto, enquanto nos dividendos a empresa paga os tributos sobre o lucro e depois distribui aos acionistas, nos JCP a empresa contabiliza essa distribuição como despesas financeiras e transfere ao investidor o ônus do pagamento do tributo.

- Payout = DPA/LPA. É o percentual dos lucros que são revertidos aos acionistas como dividendos ou Juros sobre o capital próprio (JCP). Se uma empresa tem um payout de 30%, isso significa que 30% dos lucros são revertidos aos acionistas na forma de divide

- Dividend Yield = dividendos dos últimos 12 meses/preço da ação. É medido em percentual. Refere-se ao percentual do preço da ação que retorna ao investidor como dividendos em um ano. Caso o dividend yield de uma ação seja de 5%, isso significa que, quem

- Margem líquida = Lucro líquido/ Receita líquida. É o percentual das receitas que se transformaram em lucros. Se uma empresa tem uma margem de 20%, isso significa que, a cada real que ela vendeu, 20 centavos se transformam em lucros.   - Patrimônio líqui

Da mesma forma que foi dito que o lucro é o parâmetro mais importante para o pequeno investidor, o segundo conceito mais importante para se identificar boas empresas reside na quantidade de endividamento da companhia.

Empresas com grande e crescente endividamento devem ser evitadas.

EBIT (Earnings before interest and taxes – ganhos antes do pagamento de juros e impostos) e EBITDA (earnings before interest, taxes, depreciation, and amortization – ganhos antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização): esses indicadores informam o “lucro operacional” da empresa antes do pagamento de juros, impostos, depreciação de seu ativo e amortizações de dívidas. Em breves palavras, indicam como a empresa está gerindo suas operações.

Governança corporativa: é a forma como a empresa é gerida. Para o investidor amador, significa o respeito ao acionista minoritário em relação às decisões da companhia. Entre os atos de governança corporativa que o investidor amador deve se atentar, estão a divulgação de balanços auditados em que as informações estejam claras e diretamente explicadas, a remuneração adequada de executivos e diretores, presença de “tag along” nas ações (veja abaixo a explicação), o costume de a empresa divulgar imediatamente ao público qualquer fato relevante, etc. Enfim, a governança corporativa indica o grau de transparência e ética de tratamento dos acionistas minoritário. Nesse sentido, a BM&FBOVESPA criou uma classificação das companhias em níveis de governança, sendo que seu maior nível é o “Novo Mercado”.

Nesse nível de governança (Nível “Novo Mercado”), a Bolsa exige que a empresa cumpra certas condições especiais, como a existência apenas de ações ordinárias (ON – com direito a voto) e com “tag along” (que significa que, no caso da venda do controle da empresa, todos os acionistas têm o direito de vender suas ações pelo preço recebido pelo anterior controlador); free float de, no mínimo, 25%; divulgação transparente e auditada dos balanços; publicidade das informações relevantes e composição do conselho de administração com participação de conselheiros independentes e com mandato de 2 anos.

Cada empresa listada em bolsa possui um código de 4 letras e um número.

Após as 4 letras, há um número que indica, no caso das ações (não trataremos aqui a respeito de opções, direitos de subscrições, etc.), se se trata de uma ação ordinária (numeral 3 – ON – ordinária nominativa) ou preferencial (4 – PN – preferencial nominativa).

Como investidor amador só compre ações ON (3). O fato de ser um minoritário na empresa já te coloca em uma situação fragilizada. Não aumente essa vulnerabilidade comprando ações PN (4).

Na prática a distribuição dos dividendos é muito similar nas ações preferenciais e ordinárias. Além disso, quando há o pagamento de dividendos, a ação se desvaloriza na mesma quantia, não havendo uma verdadeira vantagem. Logo, se a ação ITUB4 paga R$1,00 de dividendos em determinado dia e estava cotada a R$23,00, no dia seguinte ela abrirá o pregão valendo R$22,00.

Em minha opinião, ao contrário das justificativas apontadas, o investidor iniciante em ações deve começar com compras (não mais do que 2 por mês) de, no máximo, R$500,00 por, no mínimo, 3 meses.

Seu objetivo não deve ser acompanhar as cotações, e sim os resultados trimestrais dos balanços das empresas.

No mercado fracionário, diferentemente do que ocorre com o mercado padrão, pode-se comprar e vender qualquer número de ações – sendo que a única diferença é que o número de negócios fracionários no dia costuma ser menor.

A análise técnica, por sua vez, parte do pressuposto de que os operadores do mercado financeiro e as equipes executivas das empresas listadas – por experiência, conhecimento ou mesmo por informações privilegiadas (nunca se sabe ao certo) – sempre farão movimentos de antecipação ao restante do mercado para auferir maiores lucros.

A metodologia de aplicação em ações que entendemos mais adequada parte, como falamos, da análise fundamentalista. Além disso, ela consiste em comprar apenas ações de empresas que já demonstraram durante muito tempo sua excelência operacional, financeira e com respeito aos acionistas minoritários (governança corporativa – veja o que já falamos acima). Nesse sentido, em nossa abordagem não se permite a compra de empresas como apostas em mercados novos, empresas ruins que se tornarão boas (as chamadas “turnarounds”), empresas que estão abrindo o capital na bolsa de valores (os chamados IPOs – do inglês Initial Public Offering) e, principalmente, conselhos de amigos, vizinhos, parentes e o pior, da mídia financeira.

O investidor amador deve escolher, inicialmente, aproximadamente 20 ações, em setores diversos da economia

Dessas 20 empresas, deve-se fazer um plano de investimento em, no mínimo, 10 delas de diferentes setores. Esse plano deve contemplar ao menos uma compra mensal por um ano.

À medida que o investidor for se acostumando ao mercado de ações e à sua volatilidade, sugere-se aumentar o número de empresas como forma de se diluir o risco.   Como escolher boas empresas?

Na página da internet de cada empresa selecionada e na própria página da BM&FBovespa (http://www.bmfbovespa.com.br) são disponibilizados todos os balanços necessários para a análise das empresas de forma fácil e direta.

Nunca o investidor amador deve confundir a presente estratégia, chamada no meio financeiro de “Buy and Hold” (compre a ação e permaneça com ela), com a estratégia “Buy and Forget” (o investidor compra a ação e nunca mais estuda o desempenho da empresa, “torcendo” que ela irá se valorizar).

Com o estudo periódico das ações, pode-se perceber se uma empresa que era muito boa passou a ser ruim. Nesse caso, deve o investidor amador vender suas ações e realocar o patrimônio em algo que tenha valor.

2. ETFs:   Os ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos de renda variável comercializados na bolsa de valores como se fossem ações. Os ETFs visam a aplicar o dinheiro do investidor de forma a obter os mesmos resultados de um índice qualquer que se propõe a seguir.

Como pontos positivos dos ETFs, podemos citar que se trata de uma forma de diversificação para sair do sistema financeiro e mitigar os riscos de quebra generalizada do sistema bancário, vez que, comprando o ETF o investidor coloca seu dinheiro no setor produtivo. Outra vantagem é que, com uma única compra tem-se acesso a várias empresas. Caso essa operação fosse feita diretamente com a compra de ações, em cada operação se pagaria uma corretagem.

Além disso, comparados com outros fundos de ações (por exemplo, com os fundos de ações dos bancos comerciais), as taxas de administração são substancialmente menores, eis que, nos bancos, as taxas variam de 1% a 5% a.a., enquanto nos ETFs costumam variar de 0,059% (PIBB11) a 0,69%a.a. (SMAL11).

Os pontos negativos dos ETFs são aqueles próprios da renda variável (risco e volatilidade), somados às particularidades do produto. Em primeiro lugar, o principal ponto negativo dos ETFs refere-se ao fato de que eles não possuem a isenção de imposto de renda das vendas de ações mensais até R$20.000,00 para pessoas físicas.

Outra grande desvantagem, em nossa ótica, é a impossibilidade da escolha e constante avaliação do que seriam as “boas” empresas para emprestar seu dinheiro.

3. FIIs:   Os Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs) são fundos que visam angariar recursos para a aplicação em empreendimentos imobiliários (compra de imóveis, construção e locação e mesmo operações financeiras com fundo imobiliário). O fundo é dividido em cotas e estas podem ser comercializadas na bolsa de valores do mesmo modo que as ações (inclusive pelo Home Broker).

Apesar do produto oferecer uma garantia superior (por haver um lastro remoto em um imóvel), não podemos afirmar que seja um investimento direto em imóveis.   Entretanto, feita essa primeira observação, podemos dizer que os traços dos FIIs são assemelháveis e comparáveis com os investimentos em imóveis. Quando se adquire uma cota de um FII, espera-se, além da valorização da cota (que seria comparável à valorização do imóvel físico), o recebimento de rendimentos oriundos do imóvel (que seriam os aluguéis dos imóveis). Essa é uma primeira e grande vantagem dos FIIs: o pagamento mensal de um rendimento – o que, no longo prazo, pode gerar um fluxo positivo para a manutenção do investidor.   Além do rendimento mensal, importante sublinhar que esses rendimentos possuem isenção de imposto de renda.

A isenção de imposto de renda refere-se aos rendimentos mensais dos fundos, e não ao ganho de capital oriundo da venda das cotas com lucro. Não se aplica aqui, também, a isenção de imposto de renda na venda mensal de até R$20.000,00 em ações.

Os fundos normalmente investem em várias frentes (ex. vários locais, vários inquilinos, etc.), o que reduz os riscos característicos dos imóveis (vacância, perda de valor, depredação, etc.).

Na página da BM&FBovespa (http://www.bmfbovespa.com.br), há uma listagem dos fundos existentes em bolsa e os informes das corretoras de valores e de sites especializados que podem fornecer um material inicial para o estudo dos fundos candidatos a receber seu dinheiro.

Capítulo 3.3. Outros produtos financeiros:     1. PGBL e VGBL:

 

O PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) e o VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres) consistem em produtos em que você irá emprestar seu dinheiro a uma entidade seguradora ou de previdência complementar por certo tempo (chamado de período de diferimento) para que, após o vencimento do plano, receba uma renda mensal (que pode ser vitalícia ou por tempo determinado) ou um pagamento único.   Em ambos os casos, o imposto de renda incide apenas no momento do resgate, não havendo o famigerado “come-cotas” (cobrança de imposto de renda semestral que ocorre nos fundos de investimentos e que diminui substancialmente a rentabilidade no longo prazo). A diferença, entretanto, é que, no PGBL a tributação se dá sobre o valor total investido, enquanto no VGBL o imposto é cobrado apenas sobre os rendimentos.

Fundos de Investimentos:   Em poucas palavras, investir em fundos de investimentos implica em contratar alguém para gerenciar seu patrimônio e aplicar nos mesmos produtos expostos nesse livro.

Os fundos de investimentos só são vantajosos para os gestores dos fundos. Nossa recomendação é, portanto, não se utilizar dos fundos de investimentos

5. Imóveis:

Assim, sugerimos ao leitor que apenas adquira um imóvel para residir nele – e nunca como forma de investimento. Além disso, somente faça isso para adquirir o apartamento definitivo – já que, em cada “troca” de apartamento, aproximadamente 10% de seu valor será gasto nos intermediários (impostos, cartório, corretor, reforma, mobiliário, etc.). Logo, em um momento inicial da vida, principalmente para recém casados (que não deviam começar o desafio da vida a dois – que, diga-se de passagem, é extremamente demandante e difícil – somando um outro fator de estresse consubstanciado no financiamento imobiliário), creio que o ideal seja alugar um local barato e aproveitar para acumular um patrimônio significativo em pouco tempo.

Capítulo 4: Método de Acumulação de Patrimônio

 

Por causa das incertezas do futuro, o investidor não pode colocar todos os seus ovos na mesma cesta, seja na cesta de títulos [renda fixa] (...), seja em uma cesta de ações (...). O maior dos riscos seria o de manter uma carteira composta exclusivamente de títulos. (p.79)   Somos então levados a propor para a maioria de nossos leitores o que pode parecer uma fórmula exageradamente simplificada de uma divisão meio a meio. Segundo esse plano, a orientação geral é manter, tão perto quanto possível da prática, uma divisão igualitária entre títulos e ações. Quando as mudanças no nível de mercado tiverem aumentado o componente de ações ordinárias para, digamos, 55%, o equilíbrio seria restaurado pela venda de um undécimo da carteira de ações e a transferência da receita auferida para os títulos. Inversamente, uma queda na proporção de ações para 45% implicaria o uso de um undécimo do fundo de títulos para adquirir ações adicionais. (p.113)

O importante, ao se analisar as palavras de Benjamin Grahan, é verificar que ele propõe um método que seja automático ao investidor amador para que, assim, ele não fique sujeito aos aspectos psicológicos dos investimentos e, dessa forma, acabe por realizar uma decisão não objetiva.


Quando o mercado de ações subisse muito (forte alta na bolsa), o investidor perceberia que estaria com 55% em ações e 45% de seu patrimônio em renda fixa. Deveria, aí, vender as ações (que estariam em alta) e comprar mais títulos de renda fixa (que estariam em baixa) – mantendo a carteira em 50% com cada classe de produtos.

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